Iniciou mais uma Copa do Mundo de Futebol, evento dos mais visíveis e ricos, um dos maiores espetáculos esportivos do planeta. Como de hábito, motiva discussões, cada vez mais acentuadas, entre nós. Na bipolaridade psicossocial histórica dos brasileiros, esta competição já foi responsável por acessos de euforia descontrolada. Como vivemos agora uma das fases de depressão coletiva, com negação de valores nacionais e acentuação exasperada das deficiências, o campeonato de seleções vira alvo de condutas e atitudes depreciadoras.
Ora, não há nada de ruim no fato do Brasil ser competente no futebol. Ou em qualquer outro esporte. Só temos razões para olhar positivamente o fato de termos na história: gênios do tênis como a recentemente falecida Maria Esther Bueno ou o Guga Kuerten; nas últimas décadas seleções de voleibol masculino e feminino que acumulam títulos olímpicos e em competições mundiais; nomes que se destacaram no atletismo, no judô, na natação, na ginástica, em outros esportes; ou as jovens gerações de surfistas que brilham no circuito internacional. Devemos ter orgulho de todos eles, de alguma maneira nos representam em torneios e eventos internacionais. Coisa de subdesenvolvido? Não. As grandes potências buscam também força e relevância nos esportes, especialmente nas Olimpíadas.
Uma nação é feita também de seus esportes, cultura, ciência, artes, música, tradições. O futebol faz parte desse conjunto em muitos povos e também aqui no Brasil. É importante como esporte. Sim, o futebol faz parte da brasilidade, como a bossa-nova, o samba, o bumba-meu-boi, o Carnaval, tantas outras manifestações culturais, desportivas, artísticas, literárias. O desvio dá-se quando um esporte como o futebol é utilizado para manobras econômicas ou políticas, enfim, para o jogo do poder. Isso já aconteceu entre nós, mas hoje o brasileiro superou o risco de vínculos indevidos.
Boa parte da classe média brasileira teme que eventual título mundial de futebol venha fortalecer governo ou influir no processo eleitoral deste ano. Não se dão conta de que o eleitor brasileiro já superou completamente isso. Dois exemplos, recentes e enfáticos: em 2002, Brasil campeão da Copa do Mundo, nosso pentacampeonato, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o candidato do governo perdeu as eleições. Não mais fomos campeões e os candidatos do novo governo venceram nos pleitos seguintes. Inclusive em 2014, o vexame da derrota vergonhosa para os alemães e a presidente Dilma Rousseff reelegeu-se.
Ou seja, nos dias atuais, para o povo brasileiro Copa do Mundo é apenas um grande evento esportivo, felizmente. Ah! E verde e amarelo são cores símbolos nacionais e não monopólio de facções, grupos, partidos. Portanto, torçamos com ênfase e alegria, celebremos eventuais vitórias desportivas. Que nossa fortaleza nos gramados nos inspire como coletividade a avançar e vencer noutros campos.